Publicação

Editorial

O Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1,5 °C do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC) causou muita turbulência e fez rolar muita água. A fim de evitar consequências catastróficas, o aquecimento global deve ser limitado a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, alertou o relatório. Contudo, como sabemos, estamos longe de alcançar essa marca. Para superar este desafio do século, os cientistas defendem uma mudança radical no comportamento – algo que não pode ser alcançado sem uma mudança profunda em nossas atitudes.

Changing minds, not the climate (Mudar as mentes, não o clima, em tradução livre) é o slogan da campanha de conscientização pública da Estratégia de Ação sobre a Mudança Climática 2018-2021 da UNESCO (Strategy for Action on Climate Change 2018-2021), que está em sintonia com o Acordo de Paris de 2015 (COP-21) e com a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A estratégia estabelece uma ampla gama de ações em diversas áreas – da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (ESD) e a gestão responsável do oceano (por meio da Comissão Oceanográfica Intergovernamental, COI), , à segurança hídrica (por meio do Programa Hidrológico Internacional, PHI) e sítios culturais e naturais sob a proteção da UNESCO, que servem como Observatórios de Mudança Climática.

Muitos outros projetos estão em andamento para aumentar a conscientização pública sobre a mudança climática por meio da mídia, ou para informar as crianças por meio da Rede de Escolas Associadas da UNESCO (ASPnet internacional), Além desses esforços, há Cátedras UNESCO sobre Mudança Climática e Desenvolvimento Sustentável; o Climate Frontlines (Linha de Frente do Clima, em tradução livre), as redes de povos indígenas e outras comunidades vulneráveis, e as iniciativas essenciais de Cidadãos Verdes da UNESCO: Desbravadores para inciativas de mudança.

Mudar as mentes significa estabelecer uma nova ordem de prioridades na política, na economia, na indústria e nas vidas cotidianas de todos nós. Mas acima de tudo, trata-se de se conscientizar sobre as implicações éticas da mudança climática – que ameaçam não apenas os ecossistemas do planeta, mas também os nossos direitos fundamentais ao criar injustiças e ampliar as desigualdades.

Na medida em que as dimensões éticas da mudança climática ainda são relativamente inexploradas, a UNESCO adotou, em novembro de 2017, a Declaração de Princípios Éticos em relação à Mudança Climática – uma ferramenta acessível a todos os atores da sociedade, especialmente líderes políticos, a fim de possibilitar a tomada de decisão mais apropriada.

Com este relatório especial, O Correio pretende abrir novas perspectivas para a reflexão sobre esses aspectos menos conhecidos do maior desafio mundial de nossos tempos. Porque, paralelamente às questões científicas que chegam às manchetes da mídia, as questões de justiça e equidade, respeito aos direitos humanos, solidariedade e integridade científica e política, assim como responsabilidade individual e coletiva, devem ser os principais pilares de nossas ações em uma escala mundial.

Porém, na prática, esse ainda não é o caso. Mesmo “a comunidade dos direitos humanos, com poucas exceções notáveis, tem sido tão complacente quanto a maioria dos governos diante do derradeiro desafio da humanidade representado pela mudança climática”, afirma o especialista australiano Philip Alston, em seu relatório para a ONU de 25 de junho de 2019. O relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos considera que as medidas adotadas pela maioria dos órgãos de direitos humanos da ONU são claramente inadequadas. “Marcar itens de uma lista de checagem não vai salvar a humanidade ou o planeta do desastre iminente”, alerta o especialista.

Vincent Defourny e Jasmina Šopova

A seção Grande Angular desta edição foi publicada para marcar a Cúpula da Ação Climática das Nações Unidas, em 23 de setembro de 2019, e a 25ª sessão da Conferência das Partes sobre mudança climática, em Santiago, Chile (COP25), de 2 a 13 de dezembro de 2019.

Leia mais: 

Declaração de Princípios Éticos em relação à Mudança Climática

UNESCO Strategy for Action on Climate Change

Climate Action Summit 2019