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Himalaya FM da China: a rádio à la carte

Tendo trabalhado como apresentador profissional da estação de rádio e televisão da província de Jilin, um tradicional apresentador chinês viveu uma transformação interessante para um apresentador de nova mídia. Desde 2014, Shi Zhan tem praticado uma nova forma de contar histórias em áudio ao recriar de forma vívida a história das antigas dinastias da China na Himalaya FM, a mais bem-sucedida rede de áudio do país.

Shi Zhan, locutor chinês e apresentador de programas de entrevista

Foi por mero acaso que me inscrevi em um curso de treinamento que a Himalaya FM, a plataforma de áudio online, estava oferecendo a profissionais de mídia, amantes de voz amadores e pessoas de todas as esferas da vida. Foi nesse curso que aprendi a usar ideias e técnicas modernas na transmissão de novas mídias. Ao utilizar narração criativa e compartilhar conhecimento com base no respeito por fatos históricos e preferências do público, agora sou um dos apresentadores mais populares da plataforma.

 

Com o meu pensamento de nova mídia e interpretação humorística da história chinesa, atraí mais de 800 mil fãs – dez vezes o número de fãs que tinha na mídia tradicional. Nos últimos anos, o conteúdo de áudio ganhou popularidade na China. Diferentemente da maioria dos países ocidentais, onde a publicidade pública ou privada financia as plataformas de rádio, as redes chinesas estão gradualmente convencendo o público, especialmente a geração mais jovem, a pagar por conteúdo e conhecimento em formato de áudio.

Essa monetização de programas de áudio – onde os ouvintes acreditam valer a pena contribuir para ouvir aos seus programas favoritos, geralmente em quantias muito pequenas, permitiu que os apresentadores de rádio, dependendo de sua popularidade, aumentassem sua renda. Recentemente, gastei US$ 150 mil da minha renda da Himalaya para construir meu próprio estúdio.

Pioneira em transmissões ao vivo, audiolivros e podcasts, a Himalaya FM – com escritórios na China, Japão e Estados Unidos e planos para expandir ainda mais – possui mais de 600 milhões de usuários (de acordo com um comunicado da empresa feito em outubro de 2019). A experiência única da rede permitiu que produtores amadores e profissionais criassem conteúdo para um público potencialmente amplo e crescente. 

“Compartilhar a sabedoria humana por meio do áudio”

Advogados, médicos e outros especialistas podem compartilhar seus conhecimentos com o público em geral por meio de áudio. Seus esforços são apoiados pela Himalaya, cuja missão declarada é "compartilhar a sabedoria humana por áudio". A plataforma de áudio online oferece um grande mercado para conteúdo pago de direitos autorais, e um amplo canal de distribuição. Qualquer pessoa pode se beneficiar do modelo de negócios da empresa. Um exemplo notável é do apresentador de rádio, Deshu, de Shenyang, que comandou um grupo de pessoas deficientes para ler e gravar audiolivros, que fez com que ganhassem uma boa remuneração.

O mercado chinês de áudio online, em crescimento rápido e altamente competitivo, bem como as novas práticas de rádio que seguem o exemplo da gigante asiática de áudio, têm permitido que os produtores de rádio tradicionais consigam obter sucesso em sua transformação para apresentadores da nova mídia. Meu treinamento e anos de experiência com a Himalaya me ensinaram a criar conteúdo original ao aderir a três práticas fundamentais da nova mídia, que transformaram minha maneira de pensar e provaram ser revolucionárias.

A primeira prática da nova mídia envolve prestar mais atenção à taxa de conclusão, e não apenas observar a taxa de cliques dos ouvintes. A taxa de conclusão significa a probabilidade de o público ouvir o programa até o final. Em outubro de 2019, os usuários da Himalaya ouviam seus programas, em média, durante 170 minutos, mas os dados de back-end mostraram que metade dos ouvintes desistiam de escutar o programa após apenas alguns minutos. Isso realmente me surpreendeu e me frustrou.

Para resolver esse problema, passei meio ano criando um modelo de "pensamento de usuário" da internet, me forçando a desenvolver "uma mente afiada enquanto cobria os eventos mais recentes e descobria as últimas notícias". Fazer a lição de casa e estar atualizado é muito importante neste negócio. Antes de gravar cada programa, levo duas horas estudando as notícias e os assuntos atuais, e passo oito horas escrevendo um roteiro original antes de, finalmente, destilá-lo em um programa de apenas oito minutos. Essa "moagem" do meu próprio trabalho dobrou meu público e me permitiu aumentar rapidamente a taxa de conclusão.

A segunda prática da nova mídia é de suma importância, pois diz respeito a melhorar a experiência do usuário. Para conseguir isso, desenvolvi meu próprio método. Precisei deixar de usar a música de fundo “em volume mais alto”, como no rádio tradicional, e usar a música como uma ferramenta para apenas melhorar a atmosfera, de forma que o público preste mais atenção no conteúdo em si.

"Seleção" e "criação" são as palavras-chave da terceira prática da nova mídia. Como apresentador da nova mídia, ouso escolher material que não seja acessível ao público em nenhum outro lugar. Esse conteúdo original é criado com minha própria interpretação, tornando-o interessante e informativo para meus ouvintes.

Entre os meus projetos atuais para a Himalaya está a produção de um audioguia sobre os guerreiros de terracota do Mausoléu do Primeiro Imperador Qin. Os turistas precisam apenas digitalizar o código QR para ouvir a minha narração.

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